POR : JOSÉ MAGALHÃES


I
No rescaldo das derrotas eleitorais,a inevitável necessidade de "cura de oposição" convida à autocrítica sobre políticas falhadas e à valorização de sucessos. Mas o êxito da cura depende decisivamente de quem lidera o processo.

A boa liderança nunca esquece que a mais devastadora derrota não apaga as "marcas de mudança" capazes de servir de esteio à crítica sólida ao novo Governo e preservar a autoestima e identidade política.No caso do PS, o seu papel-chave no sistema político mantém-se e a sua "marca" tem a responsabilidade de assegurar oposição eficaz e a alternância, um dia.

Já aconteceu antes, mas acontece agora sob forma inédita.A primeira responsabilidade do PS começa a exercer-se já,em ritmo acelerado pela necessidade de não deixar a coligação de direita de mãos livres nos meses iniciais de "governação partilhada" com a troika.O PS conhece como ninguém as metas e prazos que negociou ( e também o que não negociou nem aceitou) e tem o dever de intervenção política competente,permanente e em todas as sedes próprias.Tem também a necessidade de defender-se de ataques que no rescaldo das derrotas os vencedores sempre ensaiam.
Não pode "fechar para balanço" e é em movimento que vai fazer avaliações,rectificações e mudanças.

II

Para que ao preço da derrota não se some o de um "apagão de liderança e protagonismo político" há que agir depressa,coisa que a Comissão Nacional do PS bem percebeu ao fixar um sensato calendário para os processos eleitorais e debates necessários.


No crucial debate sobre a liderança,está em causa a escolha pelos militantes de um novo secretário-geral e de um novo Presidente do PS. Aos deputados eleitos cabe a escolha do Presidente do Grupo Parlamentar.

As circunstâncias propiciam que uma necessidade ditada pela derrota seja convertida em oportunidade para mudanças cuja importÂncia é profundamente sentida e não pode agora ser adiada.
Para as escolhas a fazer oriento-me pelas ideias seguintes, cujos corolários tiro depois.
1) O PS precisa de um Presidente unificador de todas as sensibilidades,de autoridade indisputada a nível interno e estatura política nacional reconhecida.A magnífica presidência do dr Almeida Santos não é clonável, mas pode ser reinventada por quem com ele muito aprendeu e tem marca própria.
2)O PS precisa de um secretário-geral a tempo inteiro.No ciclo governativo 2005/2011,reeditando uma tendência usual, o Primeiro-Ministro absorveu o secretário-geral.Entre 1995-2002, esse apagão foi compensado pela entrega da gestão do quotidiano partidário a dirigentes com presença forte e acção coordenada.Não sucedeu o mesmo no último sexénio.O Sg não deve ser presidente do grupo parlamentar, cuja função é majorada em tempos de oposição.
O PS em cura de oposição precisa dos cuidados atentos de alguém que se preocupe tanto com a situação de cada federação, como com a acção no Parlamento nacional e europeu, nas autarquias,nas estruturas de estudos e nas instâncias internacionais.Quinzenalmente defrontará na AR o Primeiro- Ministro Passos Coelho e tem uma agenda diária virada para a sociedade e o partido. É uma tarefa dura, absorvente, que exigirá uma reforma interna a propor ao Congresso e uma equipa dirigente emergente do pluralismo eleitoral, sujeita a coordenação forte para não ser um executivo de facções.

3)A liderança do Grupo Parlamentar pode ser assegurada por qualquer dos muitos tribunos de qualidade eleitos em 5 de Junho, mas atingirá a excelência se capitalizar a experiência de direcção durante os ciclos governativos dos últimos anos.

III

Julgo reunidas condições para que a liderança assente no seguinte triângulo virtuoso:
- Presidente do Partido: António Costa
- Secretário-Geral:António José Seguro
- Presidente do Grupo Parlamentar: Francisco Assis.

Trabalhei muito com todos e cada um deles, no Governo e na oposição, nas horas de êxito e de fracasso.Posso por isso dizer convictamente que num quadro de dificuldades, é circunstância afortunada poder o PS dispor de uma liderança jovem, qualificada e diversificada, com muita experiência do passado e capacidade para rasgar os caminhos do futuro.

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