MUDANÇA - entrevista na integra do Candidato Independente, Dr. Paulo Cafôfo à CM Funchal
“Enquanto
presidente da câmara
o
meu único interesse será
pelos
munícipes deste concelho”
Afirmou
Paulo Cafôfo
É candidato à presidência da Câmara
Municipal do Funchal e conta com o apoio da coligação de seis partidos. Em
entrevista ao Tribuna, apontou as três linhas fundamentais na sua candidatura:
a cidadania, confiança e compromisso. E afirmou querer refazer a cidade a
partir das pessoas.
Frisou que não será um presidente de
gabinete e garantiu que, caso vença as eleições autárquicas, haverá uma mudança
no concelho.
Pretende dar apoio aos mais carenciados,
no âmbito da alimentação, saúde e educação, assim como aos desempregados. O IMI
também será alvo de atenção.
Falou ainda sobre as “mexidas” na
orgânica da autarquia e uma aposta no turismo, pretendendo ter um vereador
nesse pelouro. Não se preocupa com os adversários a estas eleições, nem
pretende guerras partidárias.
Paulo Cafôfo deixou claro que quer
“manter a autarquia fora de joguetes e de interesses”.
Sara Silvino
Tribuna
da Madeira (TM) – Quais foram as razões que o levaram a candidatar-se para a
presidência da Câmara Municipal do Funchal?
Paulo Cafôfo (PC) - Na minha
perspectiva, o Funchal perdeu a alma. É uma cidade que tem estado a cozinhar,
temos aqui uma situação de colapso económico, a população está a passar grandes
dificuldades. E, eu, como funchalense, não podia ficar indiferente a este
descalabro que se está a passar. Temos uma cidade completamente atrofiada, em
termos sociais. Achei que este deveria ser o momento dos cidadãos. E, enquanto
cidadão, e tendo tido alguma participação cívica seja em associações ligadas ao
património e ao ambiente, achei que este era o momento de aceitar o desafio de
como cidadão, colaborar com a minha cidade.
A minha perspectiva como candidatura é
refazer a cidade a partir das pessoas. Sou uma pessoa, um cidadão, e nessa
perspectiva, e face à situação, nomeadamente, muitos funchalenses estão à
margem do desenvolvimento, estão colocados na pobreza e na miséria, temos muita
gente a ser deixada para trás. Achei que este era o momento, por eu ser uma
pessoa de causas, de assumir agora como causa o Funchal.
Este projecto é mais do que uma
candidatura. Não temos só como objectivo a cidade vista até as eleições em
Outubro. Queremos ter um projecto para a cidade que vá para além das eleições,
temos de pensar num projecto para a cidade a médio e a longo prazo. Daí, ter
aceite este desafio de liderar um projeto, apoiado pelos partidos políticos.
Temos o PS, o BE, o PND, o PTP, o MPT e o PAN. É o momento de nós, como
cidadãos, tomarmos as rédeas do nosso destino, não deixar nas mãos daqueles que
nos trouxeram a esta situação, aos que põem em causa o nosso presente e o nosso
futuro. E temos de ser nós, cidadãos, a dar um passo em frente para seguir o
nosso destino.
As pessoas estão fartas de ocultações,
de manipulações, estão fartas das mesmas pessoas, estão fartas da ausência de
ideias e de projetos. Acho que a cidadania e as pessoas são um ponto
fundamental nesta candidatura. E é esse dever de função cívica e também um
dever de cidadania que me levou a abraçar este projecto.
TM
– Quais são as linhas gerais do seu programa?
PC – Nós ainda não temos definido o
nosso programa final. Temos ideias para a cidade, mas o projecto terá de ser
construído com os cidadãos e com todos os munícipes do concelho do Funchal.
Há três linhas fundamentais nesta minha
candidatura que são a cidadania, a confiança e o compromisso.
“Somos uma candidatura de confiança”
TM
- Quer explicar cada uma?
PC – A cidadania, a questão da
participação e envolvência dos cidadãos, queremos que isso aconteça, porque é
hora dos cidadãos. Mas somos uma candidatura de confiança. O meu único
interesse é, na verdade, a cidade. Não estou interessado em lutas partidárias,
sou independente, não sou contra os partidos. Aliás, até acho que são
fundamentais e essenciais para a nossa democracia e louvo os partidos que
decidiram unir-se. Porque, às vezes, os partidos fecham-se nos aparelhos,
fecham-se nas pessoas que pertencem aos seus quadros e não se abrem à sociedade.
Agora, temos o exemplo claro destes
partidos que decidiram dialogar que é uma coisa que nem sempre é fácil, porque
há a tendência de olhar sempre para o seu umbigo.
Nós queremos fazer um orçamento
participativo na Câmara do Funchal, em que os cidadãos são chamados para dar
ideias para a cidade em que uma parte e uma fatia do orçamento camarário é
destinado a um projecto, depois de um amplo debate na sociedade, em que esse
projecto é depois aprovado e será executado.
Este é um dos exemplos que eu quero imprimir
na câmara às necessidades reais das pessoas.
Somos uma candidatura de confiança
porque as pessoas estão um pouco cansadas de falsidade. Queremos pessoas
honestas, com competência, com carácter, com capacidade de fazer a mudança que
impõe. Não queremos entrar em jogos partidários, em jogos de ambições pessoais.
Enquanto presidente da câmara o meu
único interesse está, efectivamente, pelos cidadãos e os munícipes deste
concelho.
As pessoas podem confiar e podem contar
connosco para isso. Estamos fartos de certa corrupção, a autarquia é
corrompida, de certa forma, porque é alvo de joguetes de interesses, seja de
privados seja partidários. Queremos manter a autarquia fora desses joguetes e
de todos esses interesses. O nosso interesse único será as pessoas.
Queremos um compromisso com os cidadãos
do concelho do Funchal. Este compromisso é também da verdade. Não contem
connosco para fazer promessas irreais de obras faraónicas. Esse tempo já
passou. Os recursos são escassos e temos de rentabilizá-los ao máximo a favor
das pessoas. É hora do máximo benefício. Vamos construir pelas pessoas um
projecto cidade com base na verdade, de modo a responder às necessidades.
TM
- Já tem estado em contato com as pessoas?
PC - Estamos a ter. Ainda estamos no
início da candidatura mas já começamos a ter algum contato com as pessoas.
TM
- Já identificou as principais carências do concelho?
PC - As principais carências na cidade
tem a ver com o estrangulamento económico, com o colapso económico da cidade e
do concelho. A câmara não pode se limitar a assistir a este desfilamento nem a
ser uma espécie de administrador da insolvência das empresas, das pessoas.
Temos o desemprego que é muito grave aqui no nosso concelho e temos a pobreza e
a miséria. Este é um quadro muito negativo. Só no ano de 2012, aqui na Região,
fecharam mais de mil empresas, a grande maioria delas situa-se no Funchal.
Temos, no concelho do Funchal, cerca de 12 mil desempregados o que é
preocupante.
Temos alunos nas escolas que abandonam o
ensino para acompanhar os seus pais na emigração. Além do desemprego, temos
rendimentos baixíssimos. No concelho do Funchal temos pessoas a passar por
enormes dificuldades.
Temos uma cidade com carências em 3 dês:
uma cidade desqualificada, digo isto no sentido da dignidade das pessoas, de
não terem os seus meios mínimos de subsistência. Há uns anos atrás era
impensável termos pessoas a passar fome. Hoje em dia temos fome na nossa
cidade. Temos também uma descaracterização da cidade. A cidade
descaracteriza-se e temos que mantê-la a nossa identidade. E temos o
desordenamento do território, temos uma cidade completamente desordenada, o
plano de PDM é de 96, com uma vigência de 10 anos que sinda se mantém, com
muitas violações e irregularidades. Nós temos uma cidade completamente
desequilibrada e desordenada.
Para estes três dês, acho importante os
três erres: temos de rentabilizar a cidade, temos de revitalizar a cidade e
temos de requalificar as pessoas.
Estas são as carências e as grandes
linhas da nossa atuação.
“Aos fins-de-semana
temos uma cidade morta
TM
– Quais são as prioridades para o concelho do Funchal?
PC – Não tem havido estratégia, nem
planeamento. Numa altura em que há dificuldades, temos de assinalar algumas
prioridades. A nossa primeira prioridade é o apoio no desenvolvimento social,
temos de fazer investimento social. Queremos recuperar a economia regional e
queremos apostar no conhecimento e inovação.
Na questão do apoio social, as Juntas de
Freguesia são essenciais, em conjunto com associações e com organismos da
igreja, podem fazer o seu papel e saber quais as reais carências dos munícipes.
Iremos reforçar as verbas de apoio social às famílias. Todo o orçamento da
câmara irá ser canalizado para aqui, nem que tenha de rapar o fundo do tacho,
mas terá de ser canalizado para as famílias, e refiro-me a transportes,
educação, saúde e alimentação.
Na perspectiva da avaliação dos
funcionários, a câmara não pode ter mais gastos. É uma questão de eficiência e
rentabilização dos recursos humanos, materiais e económicos que têm. Uma ideia
que acho interessante, são os idosos carenciados que não têm mobilidade de
terem da parte da câmara o apoio para pequenos arranjos. É possível, nós, com
canalizadores e carpinteiros, que já são recursos que a câmara tem, pôr esses funcionários
da câmara ao serviço de quem precisa. Podemos ajudar em pequenos arranjos que,
às vezes, fazem muita diferença. Temos também idosos que estão sós que não têm
familiares, poderíamos criar uma bolsa com jovens que não tenham emprego e que
possam dar apoio a esses idosos, em assistência familiar, não só em termos
companhia como nas questões de supermercado. Em termos de educação, é também
importante o apoio da autarquia às escolas do 1ºCiclo, e apoio em transporte e
material escolar que queremos dar às crianças e aos nossos jovens. Outra
situação que me tem feito muita impressão são as pessoas que são apoiadas por
instituições nas refeições, têm sido jogadas, como animais, porque têm de se
deslocar de um ponto da cidade para outro, as refeições são dadas nos passeios,
é dada uma tigela para comer uma refeição. A câmara poderia, e tem condições
para isso, sem grandes custos de arranjar um local condigno para essas pessoas
tomar as refeições.
Na parte da recuperação da economia
local, um ponto importante tem a ver com a requalificação do comércio e
restauração no Funchal. Grande parte das empresas que estão fechadas no Funchal
estão ligadas à restauração. Temos de ter um plano de ordenamento do comércio
local. Um plano que faça primeiro uma caracterização do nosso comércio, com os
ramos e o tempo de actividade, que identifique espaços e zonas, criar uma marca
de comércio tradicional e a câmara ter um gabinete de apoio e aconselhamento a
projectos de consolidação do comércio tradicional.
Uma questão muito importante dentro da
área de economia é o turismo. Terei um pelouro do turismo, terei um vereador do
turismo. Esse é o nosso ADN, está nas nossas raízes, não podemos esperar que
seja só o governo regional a promover e a dinamizar o turismo.
TM
- Pretende também apostar no turismo?
PC- Além da vereação do turismo quero
que haja uma articulação com os empresários de hotelaria e restauração.
Queremos criar uma estrutura, que poderá ser uma associação de turismo do
Funchal, que articule entre a autarquia e o turismo.
Temos também falta de uma estratégia
para os monumentos históricos, temos o exemplo da zona velha que tem portas
pintadas, é vocacionada para o turismo mas é uma zona caótica. Há uma grande
densidade de empreendimentos hoteleiros, de bares e restauração que não é
benéfico. Não se está a promover o realojamento dessa zona.
O núcleo de São Pedro também é uma zona
onde gostaríamos de intervir.
O conhecimento e inovação é outra área
que tencionamos intervir temos uma Universidade na Madeira e não sabemos
aproveitar.
Outra questão são as incubadoras de
projectos, são espaços que a câmara tem em que as pessoas que estão
desempregadas poderiam utilizar os espaços com uma secretária, computador,
telefone, internet. A partir daí, as pessoas podiam montar o seu negócio sem se
preocupar em pagar renda a custos elevados, nalgumas situações poderemos nem
cobrar. Estas são algumas prioridades que pretendemos intervir, entre outras.
“Não queremos que a câmara
seja mordomo do Governo Regional”
TM
- Focou que o turismo é o ADN da Madeira. Há quem aponte que falta um plano de
estratégia no turismo. Qual é a sua opinião?
PC – Claramente. Temos as condições
óptimas e ideais para sermos uma região turística. O que falta é um planeamento
e estratégia e é importante não perdermos a nossa identidade. Por exemplo,
estas obras que estão a ser feitas vão afetar claramente a nossa identidade
como cidade. Todo o progresso tem de ser sustentável e a relação da cidade com
o mar irá perder-se com esta obra que se está a fazer na frente mar.
Falta também um plano de estratégia de
promoção de eventos culturais, de dinamização cultural que atraia as pessoas.
Aos fins-de-semana temos uma cidade morta, moribunda. Chega um barco no domingo
e a cidade não tem nada para oferecer.
TM
- A palavra de ordem da sua candidatura é «Mudança». Acredita que os
madeirenses estão conscientes de que é preciso haver uma mudança na política,
no governo, regional?
PC – Penso que sim. Acredito e quero
liderar esse processo de mudança. As pessoas constatam que o regime à volta do
PSD levou-nos a esta situação de colapso social e de banca rota. Não adianta
falar que são pessoas com experiência, que são pessoas com currículo, porque
essa experiência e esse currículo levaram-nos a esta situação. Nós queremos é sangue
novo, temos pessoas novas e queremos que os cidadãos façam essa diferença. As
pessoas têm também uma grande responsabilidade.
Eu, enquanto líder nesta candidatura
tenho uma grande responsabilidade e essa é de conseguir as pessoas credíveis e
competentes para este projecto, ideias válidas, mas na verdade as pessoas têm
uma responsabilidade maior, que é na altura certa de mudar.
TM
- Está nas mãos das pessoas a Mudança?
PC - Está nas mãos das pessoas e, neste
momento, as pessoas têm de ter a consciência porque têm uma responsabilidade
enorme de nesta altura de crise e dificuldades de fazerem essa mudança.
Nestas eleições, só haverá duas
hipóteses: aqueles que querem manter a situação, ou são cúmplices dessa
situação, não queremos que a câmara seja mordomo do governo regional ou que a
câmara seja uma repartição pública do governo regional. Não queremos também que
na câmara haja uma coligação PS/CDS, como existe a nível nacional, não queremos
que isso seja transposto para a Câmara Municipal do Funchal.
Portanto, está nas mãos das pessoas
manter a cidade na situação atrofiada em que está ou se querem dar um passo
positivo, dar a palavra aos cidadãos e fazer a mudança. As pessoas que estão
neste projecto e a boa vontade dos partidos na coligação merecem essa confiança
e a responsabilidade é muito grande e está nas mãos das pessoas.
“Não me veria nunca enjaulado
na Câmara Municipal do Funchal”
TM
- Caso seja eleito, será um autarca de gabinete ou de contato, na rua, com a
população?
PC – De maneira nenhuma. Nas minhas
funções que já exerci, e já estive no concelho directivo de uma escola, já tive
no sindicato, lembro-me de estar sempre fora do gabinete. Não sou um homem de
gabinetes, de maneira nenhuma. Gosto muito do contato com as pessoas, gosto de
ouvir as pessoas e depois formar as minhas decisões. Pretendemos ter uma
proximidade com as pessoas.
As pessoas não me vão ver, de certeza,
dentro do gabinete fechado ou escondido do povo. Pelo contrário, sou um cidadão
do povo, não me veria nunca enjaulado na Câmara Municipal do Funchal. Isso era
um contrasenso, contra aquilo que eu sou e defendo.
TM
- O facto de ser uma pessoa não ligada directamente a um partido, e tendo em
conta que a maioria das pessoas associa um rosto a um partido, isso não o
preocupa?
PC - De maneira nenhuma, pelo contrário.
Não tenho nenhuma filiação partidária, nunca participei em nenhuma candidatura
a qualquer órgão de qualquer espécie em alguma eleição, mas sempre fui um
cidadão atento e vigilante àquilo que se passava à minha volta.
E, portanto, eu não estar ligado a um
partido até acho positivo. Porque há queixa comum e recorrente das pessoas que
estão demasiado ligadas a partidos. Sou de espírito livre e é nessa perspectiva
que me apresento aqui, à presidência da Câmara Municipal do Funchal.
”Eu não estou preocupado
com os meus adversários”
TM
– Tem, neste momento, outros candidatos a lutar pela presidência da autarquia
do Funchal. Como professor, pretende dar “uma lição” aos seus adversários,
nestas eleições autárquicas?
PC – Não, não pretendo dar nenhuma
lição, obviamente. A única coisa que eu quero, tenho a minha maneira de ser e
sou eu próprio, não tenho de estar aqui num papel de moralista, nem pretendo
dar uma lição a absolutamente a ninguém. Quero é que as pessoas saibam que podem
contar comigo. Eu não estou preocupado com os meus adversários, confesso. Esta
é uma campanha que é para ser positiva, não queremos entrar na guerrilha
partidária política, naquela mesquinhez da política, o meu interesse são os
cidadãos. Quero é seguir o meu caminho que é o interesse comum e o bem
colectivo.
TM
- A sua candidatura é apoiada por uma coligação de seis partidos, o PS, BE,
PTP, PND, MPT e PAN, à excepção da CDU. Qual o seu comentário face a esta
posição por parte da CDU/M?
PC – A CDU tem um papel importante na
sociedade portuguesa e na madeirense. Obviamente, que gostaríamos muito que
eles pudessem ter aderido a este projecto, respeitamos a sua decisão.
Continuaremos nós, e continuarão eles. O nosso alvo não é a CDU nem o PCP, o
nosso alvo é quem tem governado mal a região, e particularmente os destinos da
Câmara Municipal do Funchal que nos trouxeram a esta situação.
TM
- Qual a sua opinião sobre as obras na frente mar?
PC - As obras na frente mar e tendo em
conta pareceres solicitados pela câmara, e com base nesses pareceres, sou
completamente contra o tipo de
intervenção que está a ser feita na foz das ribeiras e na frente mar do
Funchal. Aquele projecto, e não sou eu que digo são técnicos, apresenta
dúvidas, e quando os técnicos têm dúvidas…
É um projecto com graves impactes
urbanísticos e na vivência da cidade, sem certezas, há uma incerteza quanto à
eficácia da intervenção que está a ser feita, portanto o bom censo determina
que se equacionassem outras alternativas. E não foi isso que aconteceu, a
intenção do governo regional foi avançar com a obra de uma forma agressiva,
violenta. O governo regional não ouviu a autarquia, não teve em conta o parecer
da autarquia e estamos a investir milhões de euros sem garantia se aquelas
obras sejam eficazes, podemos ter mais problemas na cidade. E há uma questão
muito importante, estamos a atuar a jusante mas a montante continuam os
problemas. Continuamos com pessoas, do 20 de fevereiro, ainda por realojar,
continuamos com pessoas que apesar de não terem sido alvo da intempérie estão
em zonas vulneráveis. Nós, na verdade, continuamos com uma cidade vulnerável. E
a vulnerabilidade tem de acabar. Mas não é com estas intervenções que estão a
se realizar na margem da cidade que iremos conseguir resolver esses problemas.
Quando passados estes anos e ainda existem pessoas que não viram a sua situação
resolvida, isso para mim é de uma violência tremenda. E continuamos a gastar
milhões numa obra que nem cria emprego, porque vemos uma obra de engenharia com
maquinaria pesada, e temos uma cidade completamente vulnerável, com pessoas a
precisar ainda de auxílio que não têm, e não vão ter, porque pelos vistos as
verbas da Lei de Meios estão a ser canalizadas para ali.
“As prioridades da Lei de Meios
estão invertidas”
TM
- Qual a sua opinião sobre a aplicação da Lei de Meios. Deveria haver um maior
controlo?
PC – Obviamente, que as prioridades da
Lei de Meios estão invertidas. A prioridade deveria ser as pessoas que sofreram
a catástrofe do 20 de fevereiro e diminuir as vulnerabilidades para que outros
não sejam atingidos. É preciso não esquecer que no meio de todo este processo,
a autarquia do concelho do Funchal viu ser expropriado o seu património. Não
podemos consentir a passagem de estradas municipais a regionais sem uma
negociação, sem uma contrapartida, sem a câmara poder gerir o seu espaço. Tudo
isto é inaceitável.
O governo regional, à partida, deveria
ser uma entidade de bem e não é, porque não está só a afetar a câmara, isso é
um pormenor, mas está a afetar os munícipes.
“Estarei
sempre aberto
ao
diálogo com o GR”
TM
- Não é nenhuma novidade as divergências que têm ocorrido entre a Câmara
Municipal do Funchal e o Governo Regional, nomeadamente, no que se refere a
decisões sobre obras. Caso vença as eleições, acha que será fácil o diálogo
entre a autarquia e o governo?
PC – Eu sou uma pessoa de diálogo.
Independentemente do meu interlocutor, estarei sempre aberto ao diálogo e a
consensos. Desde que seja assegurado o interesse comum e os interesses do concelho
do Funchal. Se os interesses estiverem salvaguardados, estarei aberto para
qualquer tipo de diálogo e de entendimento.
TM
- Um dos problemas que também preocupa os munícipes do Concelho do Funchal é a
taxa do IMI. Pretende tomar alguma medida sobre isso, caso seja eleito?
PC – Como já disse, somos uma
candidatura de verdade e vamos ter cumprir sempre os compromissos com as
pessoas.
Temos uma ideia sobre essa situação mas
estamos ainda a estudá-la para ver, no que diz respeito às taxas e receitas da
câmara, de que forma é que possa haver aqui uma reforma fiscal local da
autarquia.
Mas não me vou comprometer neste
momento, isso é um assunto demasiado sério, estamos a falar não só das receitas
da câmara como também da contribuição de cada um dos cidadãos para a autarquia
e para o bem comum, isto é um assunto que ainda estamos a estudar e a seu tempo
iremos tomar uma decisão.
TM
– Mas, posteriormente, o assunto irá ser acompanhado…
PC - Sim, com certeza. Mas na
perspectiva da responsabilidade que nós queremos, isto para nós seria muito
fácil estarmos a prometer mundos e fundos. Queremos vencer a câmara e queremos
uma postura de responsabilidade. Neste momento, a nossa perspectiva é estudar o
assunto, não vamos penalizar as pessoas, isso é uma garantia.
As autarquias podem ser uma saída desta
crise, podem ser polos de dinamização da economia e do bem-estar social. Vamos
analisar a situação e as medidas serão anunciadas durante a nossa campanha.
“Estou-me a rodear das pessoas certas”
TM
- Tem consciência de que terá em mãos uma grande responsabilidade e muito
trabalho. Está preparado para isso?
PC – Perfeitamente, a melhor preparação
é a motivação. Estou muito motivado para esta tarefa, estou-me a rodear das
pessoas certas e, brevemente, irei dar conhecimento da equipa que estou a
preparar para me acompanhar neste projecto.
Temos motivação, temos capacidade,
competência e temos honestidade para levar em diante este novo projecto.
TM
- Qual é a sua opinião sobre a redução das Juntas de Freguesia?
PC - As Juntas de Freguesia são de uma
importância fundamental nesta proximidade do poder local com as populações.
Neste momento, de carências económicas e sociais têm um papel ainda acrescido.
Portanto, sou completamente contra a extinção.
TM
– Em relação ao funcionamento interno da autarquia do Funchal, que neste
momento conta com mais de 50 chefes de divisão e 15 diretores de departamentos.
Tendo em conta a racionalização de custos de funcionamento, pretende mexer na
orgânica?
PC – Para nós, os funcionários da câmara
são essenciais nesta nossa função. Queremos valorizar os funcionários e todos,
independentemente da categoria que tenham na câmara do Funchal, para nós será o
braço armado nesta luta contra as carências das pessoas. Serão a nossa mão, a
mão que irá ser estendida às pessoas e, portanto, contamos com eles e eles
podem contar comigo para isso. Obviamente, poderão haver reajustes dentro da
orgânica da câmara até pelos pelouros que irão ser atribuídos. Mas todos os
funcionários que lá estão, tenho a certeza que serão necessários para a
execução do nosso projecto para a autarquia.
TM
– Se não conseguir maioria absoluta, tenciona optar por uma coligação com
outros partidos?
PC - Estou convicto que é possível
termos uma maioria absoluta. O nosso projecto, aquilo que temos em mente, estou
a crer que será o melhor para as pessoas. Neste momento, o cenário que coloco é
de maioria absoluta. Sou uma pessoa de consenso e tudo que seja para bem da
autarquia estou disposto a ouvir e a tentar que haja um ponto para resolver os
problemas da população com todas as forças que estejam interessadas nisso.
TM
- Caso não vença as eleições autárquicas, tenciona assumir o lugar de vereador?
PC – Claramente, embora não coloco essa
questão. Tenciono ser o próximo presidente da Câmara do Funchal. Mas garanto
que se não merecermos essa confiança que esperamos das pessoas, não abandonarei
a Câmara do Funchal. Já disse que isto é um projecto, é mais do que uma
candidatura, não acaba em outubro, prolonga-se. As nossas ideias são as ideias
que temos em conjunto e em articulação com as pessoas e com os munícipes do
Concelho do Funchal, vamos continuar, independentemente, do resultado que venha
a surgir das eleições.
TM
- Que mensagem gostaria de deixar aos funchalenses?
PC - A mensagem que quero deixar é que
podem confiar em mim. Sou uma pessoa descomprometida com outros interesses mas
muito comprometida e aplicada com a cidade. Podem contar comigo para, junto com
as pessoas, revitalizarmos a cidade. É preciso refazer a cidade a partir das pessoas.
Irei ao encontro às pessoas, não numa perspectiva de propaganda, nós não
precisamos de estar em cartazes a comunicar com as pessoas, mas para
conjuntamente com e por elas fazermos uma nova cidade.
Comentários