MUDANÇA - entrevista na integra do Candidato Independente, Dr. Paulo Cafôfo à CM Funchal


“Enquanto presidente da câmara

o meu único interesse será

pelos munícipes deste concelho”

 

Afirmou Paulo Cafôfo

 

É candidato à presidência da Câmara Municipal do Funchal e conta com o apoio da coligação de seis partidos. Em entrevista ao Tribuna, apontou as três linhas fundamentais na sua candidatura: a cidadania, confiança e compromisso. E afirmou querer refazer a cidade a partir das pessoas.

Frisou que não será um presidente de gabinete e garantiu que, caso vença as eleições autárquicas, haverá uma mudança no concelho.

Pretende dar apoio aos mais carenciados, no âmbito da alimentação, saúde e educação, assim como aos desempregados. O IMI também será alvo de atenção.

Falou ainda sobre as “mexidas” na orgânica da autarquia e uma aposta no turismo, pretendendo ter um vereador nesse pelouro. Não se preocupa com os adversários a estas eleições, nem pretende guerras partidárias.

Paulo Cafôfo deixou claro que quer “manter a autarquia fora de joguetes e de interesses”.

 

Sara Silvino

 

Tribuna da Madeira (TM) – Quais foram as razões que o levaram a candidatar-se para a presidência da Câmara Municipal do Funchal?

Paulo Cafôfo (PC) - Na minha perspectiva, o Funchal perdeu a alma. É uma cidade que tem estado a cozinhar, temos aqui uma situação de colapso económico, a população está a passar grandes dificuldades. E, eu, como funchalense, não podia ficar indiferente a este descalabro que se está a passar. Temos uma cidade completamente atrofiada, em termos sociais. Achei que este deveria ser o momento dos cidadãos. E, enquanto cidadão, e tendo tido alguma participação cívica seja em associações ligadas ao património e ao ambiente, achei que este era o momento de aceitar o desafio de como cidadão, colaborar com a minha cidade.

A minha perspectiva como candidatura é refazer a cidade a partir das pessoas. Sou uma pessoa, um cidadão, e nessa perspectiva, e face à situação, nomeadamente, muitos funchalenses estão à margem do desenvolvimento, estão colocados na pobreza e na miséria, temos muita gente a ser deixada para trás. Achei que este era o momento, por eu ser uma pessoa de causas, de assumir agora como causa o Funchal.

Este projecto é mais do que uma candidatura. Não temos só como objectivo a cidade vista até as eleições em Outubro. Queremos ter um projecto para a cidade que vá para além das eleições, temos de pensar num projecto para a cidade a médio e a longo prazo. Daí, ter aceite este desafio de liderar um projeto, apoiado pelos partidos políticos. Temos o PS, o BE, o PND, o PTP, o MPT e o PAN. É o momento de nós, como cidadãos, tomarmos as rédeas do nosso destino, não deixar nas mãos daqueles que nos trouxeram a esta situação, aos que põem em causa o nosso presente e o nosso futuro. E temos de ser nós, cidadãos, a dar um passo em frente para seguir o nosso destino.

As pessoas estão fartas de ocultações, de manipulações, estão fartas das mesmas pessoas, estão fartas da ausência de ideias e de projetos. Acho que a cidadania e as pessoas são um ponto fundamental nesta candidatura. E é esse dever de função cívica e também um dever de cidadania que me levou a abraçar este projecto.

TM – Quais são as linhas gerais do seu programa?

PC – Nós ainda não temos definido o nosso programa final. Temos ideias para a cidade, mas o projecto terá de ser construído com os cidadãos e com todos os munícipes do concelho do Funchal.

Há três linhas fundamentais nesta minha candidatura que são a cidadania, a confiança e o compromisso.

 

“Somos uma candidatura de confiança”

 

TM - Quer explicar cada uma?

PC – A cidadania, a questão da participação e envolvência dos cidadãos, queremos que isso aconteça, porque é hora dos cidadãos. Mas somos uma candidatura de confiança. O meu único interesse é, na verdade, a cidade. Não estou interessado em lutas partidárias, sou independente, não sou contra os partidos. Aliás, até acho que são fundamentais e essenciais para a nossa democracia e louvo os partidos que decidiram unir-se. Porque, às vezes, os partidos fecham-se nos aparelhos, fecham-se nas pessoas que pertencem aos seus quadros e não se abrem à sociedade.

Agora, temos o exemplo claro destes partidos que decidiram dialogar que é uma coisa que nem sempre é fácil, porque há a tendência de olhar sempre para o seu umbigo.

Nós queremos fazer um orçamento participativo na Câmara do Funchal, em que os cidadãos são chamados para dar ideias para a cidade em que uma parte e uma fatia do orçamento camarário é destinado a um projecto, depois de um amplo debate na sociedade, em que esse projecto é depois aprovado e será executado.

Este é um dos exemplos que eu quero imprimir na câmara às necessidades reais das pessoas.

Somos uma candidatura de confiança porque as pessoas estão um pouco cansadas de falsidade. Queremos pessoas honestas, com competência, com carácter, com capacidade de fazer a mudança que impõe. Não queremos entrar em jogos partidários, em jogos de ambições pessoais.

Enquanto presidente da câmara o meu único interesse está, efectivamente, pelos cidadãos e os munícipes deste concelho.

As pessoas podem confiar e podem contar connosco para isso. Estamos fartos de certa corrupção, a autarquia é corrompida, de certa forma, porque é alvo de joguetes de interesses, seja de privados seja partidários. Queremos manter a autarquia fora desses joguetes e de todos esses interesses. O nosso interesse único será as pessoas.

Queremos um compromisso com os cidadãos do concelho do Funchal. Este compromisso é também da verdade. Não contem connosco para fazer promessas irreais de obras faraónicas. Esse tempo já passou. Os recursos são escassos e temos de rentabilizá-los ao máximo a favor das pessoas. É hora do máximo benefício. Vamos construir pelas pessoas um projecto cidade com base na verdade, de modo a responder às necessidades.

TM - Já tem estado em contato com as pessoas?

PC - Estamos a ter. Ainda estamos no início da candidatura mas já começamos a ter algum contato com as pessoas.

TM - Já identificou as principais carências do concelho?

PC - As principais carências na cidade tem a ver com o estrangulamento económico, com o colapso económico da cidade e do concelho. A câmara não pode se limitar a assistir a este desfilamento nem a ser uma espécie de administrador da insolvência das empresas, das pessoas. Temos o desemprego que é muito grave aqui no nosso concelho e temos a pobreza e a miséria. Este é um quadro muito negativo. Só no ano de 2012, aqui na Região, fecharam mais de mil empresas, a grande maioria delas situa-se no Funchal. Temos, no concelho do Funchal, cerca de 12 mil desempregados o que é preocupante.

Temos alunos nas escolas que abandonam o ensino para acompanhar os seus pais na emigração. Além do desemprego, temos rendimentos baixíssimos. No concelho do Funchal temos pessoas a passar por enormes dificuldades.

Temos uma cidade com carências em 3 dês: uma cidade desqualificada, digo isto no sentido da dignidade das pessoas, de não terem os seus meios mínimos de subsistência. Há uns anos atrás era impensável termos pessoas a passar fome. Hoje em dia temos fome na nossa cidade. Temos também uma descaracterização da cidade. A cidade descaracteriza-se e temos que mantê-la a nossa identidade. E temos o desordenamento do território, temos uma cidade completamente desordenada, o plano de PDM é de 96, com uma vigência de 10 anos que sinda se mantém, com muitas violações e irregularidades. Nós temos uma cidade completamente desequilibrada e desordenada.

Para estes três dês, acho importante os três erres: temos de rentabilizar a cidade, temos de revitalizar a cidade e temos de requalificar as pessoas.

Estas são as carências e as grandes linhas da nossa atuação.

 

“Aos fins-de-semana

temos uma cidade morta

 

TM – Quais são as prioridades para o concelho do Funchal?

PC – Não tem havido estratégia, nem planeamento. Numa altura em que há dificuldades, temos de assinalar algumas prioridades. A nossa primeira prioridade é o apoio no desenvolvimento social, temos de fazer investimento social. Queremos recuperar a economia regional e queremos apostar no conhecimento e inovação.

Na questão do apoio social, as Juntas de Freguesia são essenciais, em conjunto com associações e com organismos da igreja, podem fazer o seu papel e saber quais as reais carências dos munícipes. Iremos reforçar as verbas de apoio social às famílias. Todo o orçamento da câmara irá ser canalizado para aqui, nem que tenha de rapar o fundo do tacho, mas terá de ser canalizado para as famílias, e refiro-me a transportes, educação, saúde e alimentação.

Na perspectiva da avaliação dos funcionários, a câmara não pode ter mais gastos. É uma questão de eficiência e rentabilização dos recursos humanos, materiais e económicos que têm. Uma ideia que acho interessante, são os idosos carenciados que não têm mobilidade de terem da parte da câmara o apoio para pequenos arranjos. É possível, nós, com canalizadores e carpinteiros, que já são recursos que a câmara tem, pôr esses funcionários da câmara ao serviço de quem precisa. Podemos ajudar em pequenos arranjos que, às vezes, fazem muita diferença. Temos também idosos que estão sós que não têm familiares, poderíamos criar uma bolsa com jovens que não tenham emprego e que possam dar apoio a esses idosos, em assistência familiar, não só em termos companhia como nas questões de supermercado. Em termos de educação, é também importante o apoio da autarquia às escolas do 1ºCiclo, e apoio em transporte e material escolar que queremos dar às crianças e aos nossos jovens. Outra situação que me tem feito muita impressão são as pessoas que são apoiadas por instituições nas refeições, têm sido jogadas, como animais, porque têm de se deslocar de um ponto da cidade para outro, as refeições são dadas nos passeios, é dada uma tigela para comer uma refeição. A câmara poderia, e tem condições para isso, sem grandes custos de arranjar um local condigno para essas pessoas tomar as refeições.

Na parte da recuperação da economia local, um ponto importante tem a ver com a requalificação do comércio e restauração no Funchal. Grande parte das empresas que estão fechadas no Funchal estão ligadas à restauração. Temos de ter um plano de ordenamento do comércio local. Um plano que faça primeiro uma caracterização do nosso comércio, com os ramos e o tempo de actividade, que identifique espaços e zonas, criar uma marca de comércio tradicional e a câmara ter um gabinete de apoio e aconselhamento a projectos de consolidação do comércio tradicional.

Uma questão muito importante dentro da área de economia é o turismo. Terei um pelouro do turismo, terei um vereador do turismo. Esse é o nosso ADN, está nas nossas raízes, não podemos esperar que seja só o governo regional a promover e a dinamizar o turismo.

TM - Pretende também apostar no turismo?

PC- Além da vereação do turismo quero que haja uma articulação com os empresários de hotelaria e restauração. Queremos criar uma estrutura, que poderá ser uma associação de turismo do Funchal, que articule entre a autarquia e o turismo.

Temos também falta de uma estratégia para os monumentos históricos, temos o exemplo da zona velha que tem portas pintadas, é vocacionada para o turismo mas é uma zona caótica. Há uma grande densidade de empreendimentos hoteleiros, de bares e restauração que não é benéfico. Não se está a promover o realojamento dessa zona.

O núcleo de São Pedro também é uma zona onde gostaríamos de intervir.

O conhecimento e inovação é outra área que tencionamos intervir temos uma Universidade na Madeira e não sabemos aproveitar.

Outra questão são as incubadoras de projectos, são espaços que a câmara tem em que as pessoas que estão desempregadas poderiam utilizar os espaços com uma secretária, computador, telefone, internet. A partir daí, as pessoas podiam montar o seu negócio sem se preocupar em pagar renda a custos elevados, nalgumas situações poderemos nem cobrar. Estas são algumas prioridades que pretendemos intervir, entre outras.

 

“Não queremos que a câmara

seja mordomo do Governo Regional”

 

TM - Focou que o turismo é o ADN da Madeira. Há quem aponte que falta um plano de estratégia no turismo. Qual é a sua opinião?

PC – Claramente. Temos as condições óptimas e ideais para sermos uma região turística. O que falta é um planeamento e estratégia e é importante não perdermos a nossa identidade. Por exemplo, estas obras que estão a ser feitas vão afetar claramente a nossa identidade como cidade. Todo o progresso tem de ser sustentável e a relação da cidade com o mar irá perder-se com esta obra que se está a fazer na frente mar.

Falta também um plano de estratégia de promoção de eventos culturais, de dinamização cultural que atraia as pessoas. Aos fins-de-semana temos uma cidade morta, moribunda. Chega um barco no domingo e a cidade não tem nada para oferecer.

TM - A palavra de ordem da sua candidatura é «Mudança». Acredita que os madeirenses estão conscientes de que é preciso haver uma mudança na política, no governo, regional?

PC – Penso que sim. Acredito e quero liderar esse processo de mudança. As pessoas constatam que o regime à volta do PSD levou-nos a esta situação de colapso social e de banca rota. Não adianta falar que são pessoas com experiência, que são pessoas com currículo, porque essa experiência e esse currículo levaram-nos a esta situação. Nós queremos é sangue novo, temos pessoas novas e queremos que os cidadãos façam essa diferença. As pessoas têm também uma grande responsabilidade.

Eu, enquanto líder nesta candidatura tenho uma grande responsabilidade e essa é de conseguir as pessoas credíveis e competentes para este projecto, ideias válidas, mas na verdade as pessoas têm uma responsabilidade maior, que é na altura certa de mudar.

TM - Está nas mãos das pessoas a Mudança?

PC - Está nas mãos das pessoas e, neste momento, as pessoas têm de ter a consciência porque têm uma responsabilidade enorme de nesta altura de crise e dificuldades de fazerem essa mudança.

Nestas eleições, só haverá duas hipóteses: aqueles que querem manter a situação, ou são cúmplices dessa situação, não queremos que a câmara seja mordomo do governo regional ou que a câmara seja uma repartição pública do governo regional. Não queremos também que na câmara haja uma coligação PS/CDS, como existe a nível nacional, não queremos que isso seja transposto para a Câmara Municipal do Funchal.

Portanto, está nas mãos das pessoas manter a cidade na situação atrofiada em que está ou se querem dar um passo positivo, dar a palavra aos cidadãos e fazer a mudança. As pessoas que estão neste projecto e a boa vontade dos partidos na coligação merecem essa confiança e a responsabilidade é muito grande e está nas mãos das pessoas.

 

“Não me veria nunca enjaulado

na Câmara Municipal do Funchal”

 

TM - Caso seja eleito, será um autarca de gabinete ou de contato, na rua, com a população?

PC – De maneira nenhuma. Nas minhas funções que já exerci, e já estive no concelho directivo de uma escola, já tive no sindicato, lembro-me de estar sempre fora do gabinete. Não sou um homem de gabinetes, de maneira nenhuma. Gosto muito do contato com as pessoas, gosto de ouvir as pessoas e depois formar as minhas decisões. Pretendemos ter uma proximidade com as pessoas.

As pessoas não me vão ver, de certeza, dentro do gabinete fechado ou escondido do povo. Pelo contrário, sou um cidadão do povo, não me veria nunca enjaulado na Câmara Municipal do Funchal. Isso era um contrasenso, contra aquilo que eu sou e defendo.

TM - O facto de ser uma pessoa não ligada directamente a um partido, e tendo em conta que a maioria das pessoas associa um rosto a um partido, isso não o preocupa?

PC - De maneira nenhuma, pelo contrário. Não tenho nenhuma filiação partidária, nunca participei em nenhuma candidatura a qualquer órgão de qualquer espécie em alguma eleição, mas sempre fui um cidadão atento e vigilante àquilo que se passava à minha volta.

E, portanto, eu não estar ligado a um partido até acho positivo. Porque há queixa comum e recorrente das pessoas que estão demasiado ligadas a partidos. Sou de espírito livre e é nessa perspectiva que me apresento aqui, à presidência da Câmara Municipal do Funchal.

 

”Eu não estou preocupado

com os meus adversários”

 

TM – Tem, neste momento, outros candidatos a lutar pela presidência da autarquia do Funchal. Como professor, pretende dar “uma lição” aos seus adversários, nestas eleições autárquicas?

PC – Não, não pretendo dar nenhuma lição, obviamente. A única coisa que eu quero, tenho a minha maneira de ser e sou eu próprio, não tenho de estar aqui num papel de moralista, nem pretendo dar uma lição a absolutamente a ninguém. Quero é que as pessoas saibam que podem contar comigo. Eu não estou preocupado com os meus adversários, confesso. Esta é uma campanha que é para ser positiva, não queremos entrar na guerrilha partidária política, naquela mesquinhez da política, o meu interesse são os cidadãos. Quero é seguir o meu caminho que é o interesse comum e o bem colectivo.

TM - A sua candidatura é apoiada por uma coligação de seis partidos, o PS, BE, PTP, PND, MPT e PAN, à excepção da CDU. Qual o seu comentário face a esta posição por parte da CDU/M?

PC – A CDU tem um papel importante na sociedade portuguesa e na madeirense. Obviamente, que gostaríamos muito que eles pudessem ter aderido a este projecto, respeitamos a sua decisão. Continuaremos nós, e continuarão eles. O nosso alvo não é a CDU nem o PCP, o nosso alvo é quem tem governado mal a região, e particularmente os destinos da Câmara Municipal do Funchal que nos trouxeram a esta situação.

TM - Qual a sua opinião sobre as obras na frente mar?

PC - As obras na frente mar e tendo em conta pareceres solicitados pela câmara, e com base nesses pareceres, sou completamente contra  o tipo de intervenção que está a ser feita na foz das ribeiras e na frente mar do Funchal. Aquele projecto, e não sou eu que digo são técnicos, apresenta dúvidas, e quando os técnicos têm dúvidas…

É um projecto com graves impactes urbanísticos e na vivência da cidade, sem certezas, há uma incerteza quanto à eficácia da intervenção que está a ser feita, portanto o bom censo determina que se equacionassem outras alternativas. E não foi isso que aconteceu, a intenção do governo regional foi avançar com a obra de uma forma agressiva, violenta. O governo regional não ouviu a autarquia, não teve em conta o parecer da autarquia e estamos a investir milhões de euros sem garantia se aquelas obras sejam eficazes, podemos ter mais problemas na cidade. E há uma questão muito importante, estamos a atuar a jusante mas a montante continuam os problemas. Continuamos com pessoas, do 20 de fevereiro, ainda por realojar, continuamos com pessoas que apesar de não terem sido alvo da intempérie estão em zonas vulneráveis. Nós, na verdade, continuamos com uma cidade vulnerável. E a vulnerabilidade tem de acabar. Mas não é com estas intervenções que estão a se realizar na margem da cidade que iremos conseguir resolver esses problemas. Quando passados estes anos e ainda existem pessoas que não viram a sua situação resolvida, isso para mim é de uma violência tremenda. E continuamos a gastar milhões numa obra que nem cria emprego, porque vemos uma obra de engenharia com maquinaria pesada, e temos uma cidade completamente vulnerável, com pessoas a precisar ainda de auxílio que não têm, e não vão ter, porque pelos vistos as verbas da Lei de Meios estão a ser canalizadas para ali.

 

“As prioridades da Lei de Meios

estão invertidas”

 

TM - Qual a sua opinião sobre a aplicação da Lei de Meios. Deveria haver um maior controlo?

PC – Obviamente, que as prioridades da Lei de Meios estão invertidas. A prioridade deveria ser as pessoas que sofreram a catástrofe do 20 de fevereiro e diminuir as vulnerabilidades para que outros não sejam atingidos. É preciso não esquecer que no meio de todo este processo, a autarquia do concelho do Funchal viu ser expropriado o seu património. Não podemos consentir a passagem de estradas municipais a regionais sem uma negociação, sem uma contrapartida, sem a câmara poder gerir o seu espaço. Tudo isto é inaceitável.

O governo regional, à partida, deveria ser uma entidade de bem e não é, porque não está só a afetar a câmara, isso é um pormenor, mas está a afetar os munícipes.

 

“Estarei sempre aberto

ao diálogo com o GR”

 

TM - Não é nenhuma novidade as divergências que têm ocorrido entre a Câmara Municipal do Funchal e o Governo Regional, nomeadamente, no que se refere a decisões sobre obras. Caso vença as eleições, acha que será fácil o diálogo entre a autarquia e o governo?

PC – Eu sou uma pessoa de diálogo. Independentemente do meu interlocutor, estarei sempre aberto ao diálogo e a consensos. Desde que seja assegurado o interesse comum e os interesses do concelho do Funchal. Se os interesses estiverem salvaguardados, estarei aberto para qualquer tipo de diálogo e de entendimento.

TM - Um dos problemas que também preocupa os munícipes do Concelho do Funchal é a taxa do IMI. Pretende tomar alguma medida sobre isso, caso seja eleito?

PC – Como já disse, somos uma candidatura de verdade e vamos ter cumprir sempre os compromissos com as pessoas.

Temos uma ideia sobre essa situação mas estamos ainda a estudá-la para ver, no que diz respeito às taxas e receitas da câmara, de que forma é que possa haver aqui uma reforma fiscal local da autarquia.

Mas não me vou comprometer neste momento, isso é um assunto demasiado sério, estamos a falar não só das receitas da câmara como também da contribuição de cada um dos cidadãos para a autarquia e para o bem comum, isto é um assunto que ainda estamos a estudar e a seu tempo iremos tomar uma decisão.

TM – Mas, posteriormente, o assunto irá ser acompanhado…

PC - Sim, com certeza. Mas na perspectiva da responsabilidade que nós queremos, isto para nós seria muito fácil estarmos a prometer mundos e fundos. Queremos vencer a câmara e queremos uma postura de responsabilidade. Neste momento, a nossa perspectiva é estudar o assunto, não vamos penalizar as pessoas, isso é uma garantia.

As autarquias podem ser uma saída desta crise, podem ser polos de dinamização da economia e do bem-estar social. Vamos analisar a situação e as medidas serão anunciadas durante a nossa campanha.

 

“Estou-me a rodear das pessoas certas”

 

TM - Tem consciência de que terá em mãos uma grande responsabilidade e muito trabalho. Está preparado para isso?

PC – Perfeitamente, a melhor preparação é a motivação. Estou muito motivado para esta tarefa, estou-me a rodear das pessoas certas e, brevemente, irei dar conhecimento da equipa que estou a preparar para me acompanhar neste projecto.

Temos motivação, temos capacidade, competência e temos honestidade para levar em diante este novo projecto.

TM - Qual é a sua opinião sobre a redução das Juntas de Freguesia?

PC - As Juntas de Freguesia são de uma importância fundamental nesta proximidade do poder local com as populações. Neste momento, de carências económicas e sociais têm um papel ainda acrescido. Portanto, sou completamente contra a extinção.

TM – Em relação ao funcionamento interno da autarquia do Funchal, que neste momento conta com mais de 50 chefes de divisão e 15 diretores de departamentos. Tendo em conta a racionalização de custos de funcionamento, pretende mexer na orgânica?

PC – Para nós, os funcionários da câmara são essenciais nesta nossa função. Queremos valorizar os funcionários e todos, independentemente da categoria que tenham na câmara do Funchal, para nós será o braço armado nesta luta contra as carências das pessoas. Serão a nossa mão, a mão que irá ser estendida às pessoas e, portanto, contamos com eles e eles podem contar comigo para isso. Obviamente, poderão haver reajustes dentro da orgânica da câmara até pelos pelouros que irão ser atribuídos. Mas todos os funcionários que lá estão, tenho a certeza que serão necessários para a execução do nosso projecto para a autarquia.

TM – Se não conseguir maioria absoluta, tenciona optar por uma coligação com outros partidos?

PC - Estou convicto que é possível termos uma maioria absoluta. O nosso projecto, aquilo que temos em mente, estou a crer que será o melhor para as pessoas. Neste momento, o cenário que coloco é de maioria absoluta. Sou uma pessoa de consenso e tudo que seja para bem da autarquia estou disposto a ouvir e a tentar que haja um ponto para resolver os problemas da população com todas as forças que estejam interessadas nisso.

TM - Caso não vença as eleições autárquicas, tenciona assumir o lugar de vereador?

PC – Claramente, embora não coloco essa questão. Tenciono ser o próximo presidente da Câmara do Funchal. Mas garanto que se não merecermos essa confiança que esperamos das pessoas, não abandonarei a Câmara do Funchal. Já disse que isto é um projecto, é mais do que uma candidatura, não acaba em outubro, prolonga-se. As nossas ideias são as ideias que temos em conjunto e em articulação com as pessoas e com os munícipes do Concelho do Funchal, vamos continuar, independentemente, do resultado que venha a surgir das eleições.

TM - Que mensagem gostaria de deixar aos funchalenses?

PC - A mensagem que quero deixar é que podem confiar em mim. Sou uma pessoa descomprometida com outros interesses mas muito comprometida e aplicada com a cidade. Podem contar comigo para, junto com as pessoas, revitalizarmos a cidade. É preciso refazer a cidade a partir das pessoas. Irei ao encontro às pessoas, não numa perspectiva de propaganda, nós não precisamos de estar em cartazes a comunicar com as pessoas, mas para conjuntamente com e por elas fazermos uma nova cidade.

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