Uma reunião histórica?


É preciso impedir a germanização da União Europeia, de péssimas consequências para todos, incluindo a própria Alemanha

No dia 11 de Março volta a haver uma Cimeira dos Estados da zona euro para aprovar o Pacto de Competitividade e Convergência, proposto pela Alemanha da chanceler Merkel. Os Estados-membros, 17 no total, discutem entre si um pacto que pode representar um passo em frente para a defesa do euro e para a consolidação de situações, como a portuguesa, que estão a viver dias muito difíceis. Ou não. Depende das decisões que os Estados-membros virão a tomar.

A proposta alemã tem alguma lógica mas não é aceitável - sem emendas sérias - para Estados, como o português. Porquê? Porque só contempla a questão monetária, exigindo a redução draconiana do défice, do endividamento externo, público e privado. O que por sua vez exige cortes sérios no despesismo público (Estado, parcerias público-privadas, Regiões Autónomas e Autarquias), para que possamos pagar os juros, elevadíssimos, quanto à nossa dívida, que nos são igualmente exigidos. Nisso reside a linha central do Pacto de Competitividade e Convergência, proposto pela Alemanha.

Contudo, a proposta é omissa quanto ao nosso crescimento que, dadas as medidas de austeridade que nos são impostas por Bruxelas, tem tendência para ser nulo, com aumento do desemprego - o que no plano social é terrível - e a precariedade do trabalho, criando novas manchas de pobreza. O investimento interno e externo cairia a pique e muitas das conquistas sociais, que nos trouxe a Revolução dos Cravos e depois os governos socialistas, e não só, de que tanto nos orgulhamos - no domínio da saúde, da segurança social e das condições de trabalho -, poderão vir a ser bastante afetadas.

Sei que não podemos aceitar tais consequências, resultantes aliás do Pacto de Competitividade, sem mais. Temos de encontrar uma solução de compromisso, que os nossos parceiros respeitem, sendo certo que alguns, a curto prazo, poderão vir a estar em situações semelhantes às nossas. Para quê? Para conjugar a redução do défice e do endividamento externo, com a necessidade absoluta de evitar a recessão económica, fazendo subir o nosso crescimento. É preciso, portanto, que países como a Bélgica, a Espanha, a Itália e mesmo porventura a França - apesar da atual subserviência que esta tem em relação à Alemanha - nos ajudem na escolha de um caminho de equilíbrio, impedindo a germanização da União Europeia, de péssimas consequências para todos, incluindo a própria Alemanha. Penso que os sociais-democratas alemães - que tiveram agora uma vitória esmagadora em Hamburgo - começam a estar de acordo com o que proponho.

Num momento tão grave como o atual, tudo indica que Portugal e Espanha possam ter posições convergentes. A Península Ibérico, no seu conjunto, tem muito peso na União Europeia. Se os nossos governos e diplomacias tiverem a coragem de falar alto à Alemanha - sem subserviência ou ficando em silêncio - iremos encontrar em 11 de Março mais aliados do que alguns supõem.

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