DIGNO DE REGISTO!

O editorial do Director do Diário pago merece um digno louvor. Por Luis Calisto.

As polícias desencadearam uma campanha para esbater a imagem de pequena criminalidade crescente na Região. Como? Adoptando tácticas e estratégias preventivas e dissuasoras do crime? Não. O método tacitamente convencionado é ir convencendo o cidadão de que é tudo exagero da comunicação social. Evidentemente que, assim, o dr. Alberto João Jardim fica satisfeito com a posição das forças da ordem. O sentimento de estabilidade é eleitoralmente fundamental para quem está no poder. O pior é que a 'política de avestruz' jamais trouxe bons resultados a quem quer que fosse. Ainda assim, que podemos fazer para não "exagerar" nas notícias? Reduzir o seu caudal? Ora, deixar de veicular esses sucessos não quer dizer que eles não aconteceram. Mais: os jornais têm o dever de informar tudo o que é de interesse público com o acréscimo, neste caso, de que seria outro crime abster-se de alertar as pessoas para a realidade em que vivem. Em resumo, toda a vez que um cidadão sofre um atentado à sua dignidade, à sua integridade física ou ao seu património, temos notícia. As autoridades sabem que não conseguem manipular o emissor da mensagem e então vão directos ao receptor - aqui utilizando, ironicamente, veículos da comunicação social acusada de "exagero". Claro que as polícias não podem negar os assaltos com agressão a turistas no Pico da Torre, nas levadas, em plena Baixa do Funchal; os roubos por esticão; os assaltos a ourivesarias, gasolineiras e simples bares por encapuzados; as incursões em casas; o tráfico e o consumo de droga; os comas alcoólicos de menores por essas festas dentro. Então, as autoridades falam de "exagero", embora sem desmentir uma única das notícias publicadas. Há problemas, mas há "exagero", dizem. Então qual é a realidade, segundo as polícias? Uns números divulgados por atacado e de maneira imperceptível pelas próprias polícias, nos balanços para mostrar serviço. Não há roubos, há é uma acção policial que apanhou três ou quatro pilha-galinhas esfomeados; não há famílias desgraçadas por causa da toxicodependência, o que há é mais dois quilos de haxixe apanhados pela brigada tal - com os emblemas a ficar nas fotografias do produto apreendido. A polícia é paga pelos cidadãos, não pelos governantes. Por isso, tem deveres é perante os cidadãos, não perante os governantes. E a população não admite esta inédita situação em que já tem receio de estar em casa e de passar por certas ruas. Chegará dizer que o DIÁRIO "exagera" para que a criminalidade não esteja, de facto, a estragar a imagem desta turística economia? O poder acha que sim e certamente está agradecido às polícias que lançam tais pregões. Mas começa a ser impossível esconder as causas do crescimento da criminalidade. As polícias devem perceber que a marginalidade tem as suas causas na política. Que, para estancar o efectivo de criminosos, o poder político deve combater a pobreza e o desemprego. E que, para acabar com a pobreza e o desemprego, é necessário começar por atacar as desigualdades sociais numa sociedade mergulhada num clima de dúvidas sobre um 'colarinho branco' a transferir fundos para as riquezas súbitas que continuamos a ver nesta paradisíaca pérola. Se calhar, um bom caso de polícia.

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