O QUE ELES DIZEM...
Henrique Correia
Uma medida para fechar o Jornal
Governo da República, do Partido Socialista, acaba de aprovar uma medida para fechar o Jornal da Madeira. É preciso dizer isto com todas as letras porque efectivamente é disso que se trata. E que na prática se traduz em mandar, também assim com números muito frios, quase uma centena de pessoas para o desemprego, com reflexos efectivos em sensivelmente outras trezentas pessoas. Para quem disse que ia criar 150 mil empregos, é uma pequena obra, na qual os deputados socialistas na Assembleia da República, com o Dr. Maximiano à cabeça, e o próprio líder do PS-Madeira João Carlos Gouveia, auxiliado pelo líder parlamentar Vítor Freitas, tiveram grande participação, deixando que a sua “cegueira” político-partidária fosse superior à avaliação das consequências que um cenário destes poderia acarretar, tendo como possíveis despedimentos no horizonte e não tendo assim tanta certeza quanto aos votos que este posicionamento vai dar. Não ponderando, é natural que se faça isto. O PS-Madeira, no seu melhor, que há décadas anda à procura do seu norte interno, e não será certamente por culpa do Jornal da Madeira, vem agora associar-se, não a numa medida que o possa dignificar enquanto força política alternativa na Região, mas antes em mais uma atitude que vai ao encontro das características que o têm marcado na sua gestão política. Fechar o Jornal da Madeira não vai resolver certamente os problemas e os objectivos do Partido Socialista na Região. Fechar o Jornal da Madeira não vai dar líderes com credibilidade. Fechar o Jornal da Madeira não vai corresponder a uma vantagem de uma organização política que, quase sempre, dá “tiros nos pés”.Independentemente das questões políticas, que devem ser discutidas nos locais próprios e com os mecanismos correspondentes, esta situação ontem concretizada pelo executivo de José Sócrates, vem afectar sobremaneira todos aqueles que, honestamente, trabalham neste jornal e que, com o seu profissionalismo, sempre se empenharam no sentido de dar o contributo no contexto da informação madeirense, à parte de todas as discussões, que sempre ocorreram, relativamente à circunstância do Governo dever ser ou não proprietário de um jornal.Mas outro aspecto que não deixa de provocar algum sorriso, para não dizer gargalhada, é o facto de o PS fazer uma lei que impede os governos regionais e as câmaras de possuírem órgãos de comunicação social, mas por outro lado ser ele próprio proprietário de uma rádio (RDP), de uma televisão (RTP) e de uma agência noticiosa (Lusa). Neste particular, a coberto de serviço público, o Estado já pode ter órgãos de comunicação social à vontade. O importante é que o Governo Regional não tenha o Jornal da Madeira. Naturalmente, chama-se coerência à incoerência, chama-se decisão superior em nome dos interesses nacionais à estratégia cirúrgica de utilizar o Governo a favor de um interesse partidário, para não falar de outros que estão por detrás destas operações “independentes” Realmente, nos dias de hoje, é tudo uma questão de nomes, mandando a dignidade e a verdade às malvas.
in Jornal da Madeira 20 junho de 2008
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