Tornem a humanidade, humana!

Nasci às zero horas, todos me esperavam com contentamento e com os desejos de que eu fosse a esperança, a luz, um caminho de dias, semanas e meses, mas que no fim se pudesse dizer – foi um ano bom.
Nasci assim entre foguetes, festa e champanhe, nasci sem conhecer o mundo, mas os primeiros momentos do meu nascimento só vi festa, alegria e esperança nos olhos dos humanos.
O meu nascimento foi fruto também do carinho e do amor dos humanos, senti nas palavras, nas atitudes, que todos esperavam muito de mim. Foi com alegria incontida que senti que era um ano muito desejado, todos faziam fé em mim, e os primeiros segundos, minutos e horas da minha vida, foi como se chegasse a um céu terreno.
Depois da festa e com poucas horas de vida comecei a perceber que a alegria, a esperança tinham como pano de fundo uma realidade que desconhecia. A esperança em mim depositada era fruto da aflição dos humanos e da sua triste sina!
Afinal o céu terreno, das primeiras horas da minha vida, era a ilusão, a realidade era bem diferente. Olhei o mundo, vi as desigualdades, vi uns ricos e outros miseráveis, vi as dificuldades de muitos e a alegria de poucos, vi o sofrimento, vi a humanidade, as suas virtudes e os seus defeitos, vi o lado sombrio dos homens, que cada vez mais apaga o seu diminuto lado bom, vi a dimensão desumana do “Ter” colocar-se e esmagar a dimensão do “Ser”. Ouvi os apelos aflitos, daqueles que viviam na pobreza e na miséria, ouvi os gritos de dor das mães que perdiam os filhos nas guerras, foi ai que ganhei outro sentido, passei a sentir a dor como se de um humano me tratasse, mas as dores dos outros eu é que às sentia. Aí percebi que era verdadeiramente sobre-humano, porque nem sempre o humano sente a dor dos outros.
Perante os apelos, dos humildes e dos que sofriam, dei por mim a reflectir que posso eu fazer para mudar este estado anormal da humanidade?

Questionei-me se os próprios seres humanos terão a noção do mal que provocam a si próprios?

Será que têm consciência do caminho que estão a traçar, para si e para os seus filhos e netos?

Será que milhões e milhões de anos de evolução da humanidade, não poderiam gerar uma humanidade mais humana?

Perante estas reflexões dei comigo a pensar que a única acção que poderia fazer era mostrar à humanidade a situação em que se colocara.

Mostrei a quem quis ver a guerra e os seus resultados;
Mostrei a pobreza e a miséria que existe por todo o mundo;
Mostrei os efeitos das alterações climáticas;
Mostrei as desigualdades: o fosso entre os ricos e os pobres.

Dei-vos a sentir:
A crise dos alimentos;
A crise dos combustíveis;
A crise ecológica;
A crise financeira e as vergonhas dos bancos e das bolsas;
A crise económica e social;
Agora que me faltam poucas horas de vida, percebi que afinal os humanos já conheciam esta realidade, tinham e têm consciência destes factos. Deveria ter-vos levado a agir, mas não o fiz. Também eu, agora que oiço as trombetas dos finados e que me resta muito pouco tempo, deixo-vos um último apelo: não desperdicem 2009! Tornem a humanidade, humana!

Comentários

Anónimo disse…
e o autor? não se coloca o autor no texto???

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